Mirra Andreeva é a mais jovem a chegar às semifinais de um Grand Slam em 27 anos
Apaixonada por animais, fã de redes sociais e sempre sorridente, Mirra Andreeva poderia ser considerada uma típica adolescente da geração Z, se não fosse por um detalhe: a jovem russa é a 38ª melhor tenista do mundo. Profissional desde 2022, a atleta, que já derrotou Bia Haddad Maia e Ons Jabeur, eliminou a número 2 do ranking, Aryna Sabalenka, em Roland Garros, na última quarta-feira, e vai lutar por uma vaga na final do Grand Slam nesta quinta-feira, às 11h30 (de Brasília).
Paixão em família
Mirra e sua irmã mais velha, Erika, também tenista, conheceram as quadras desde cedo. Sua mãe, Raisa Aleksandrovna, era fã do ex-número 1 do mundo, Marat Safin. Ao assistir à vitória do russo no Australian Open de 2005, pela televisão, quando sua primogênita tinha apenas seis meses de idade, decidiu levar as filhas para aprender o esporte.
Aos seis anos, a pequena russa conseguiu sustentar uma raquete sozinha e com firmeza pela primeira vez. Nascida em Krasnoyarsk, no coração da Sibéria, Mirra se mudou com a família para Sochi, terra de Maria Sharapova, anos mais tarde, para que ela e sua irmã aprimorassem seus estilos de jogo. Já adolescente, foi para Cannes, no sul da França, treinar na academia Elite Tennis Center, por onde passaram estrelas como Daniil Medvedev.
Estreia no profissional
Em outubro de 2022, jogou seu primeiro WTA 250, no Jasmin Open da Tunísia. Apesar da derrota na estreia, era o início de um sonho para a jovem tenista nos torneios profissionais. De 429ª do ranking, saltou para 194ª, e conquistou uma vaga no Madrid Open, em abril do ano seguinte. Venceu Bia Haddad e Magda Linette, números 13 e 17 do mundo, aos 15 anos de idade, mas foi interrompida por sua compatriota, Sabalenka, nas oitavas de final.
Primeiro Grand Slam
Chegou à chave principal de um Grand Slam em maio de 2023, assim que completou 16 anos, ao furar o qualifying de Roland Garros. No caminho, venceu Polina Kudermetova, Emiliana Arango, e a cabeça de chave colombiana Camila Osorio. Caiu para Coco Gauff na terceira rodada, por 2 sets a 1, mas estava apenas escrevendo o prefácio de uma longa história de conquistas.
Um mês depois, conheceu a sensação de jogar na grama, em Wimbledon. Parou nas oitavas e arrancou para a 64ª posição com sua campanha. Em dezembro, foi nomeada caloura do ano pela WTA, como a tenista que deu o maior salto em 2023, do 405º ao 46ºlugar.
Encantadora de animais
Na virada para 2024, a jovem atleta participou do WTA 500 de Brisbane, na Austrália. Durante os dias de folga, ela podia ser confundida com uma adolescente comum. Conheceu coalas, brincou com esquilos e até posou com uma cobra gigante no pescoço. Nos dias de jogos, entrava em quadra destemida. Superou adversárias de todas as idades, até parar nas quartas de final.
Ainda no país, conquistou sua primeira vitória sobre uma adversária top 10 do ranking. A russa venceu a ex-número 2 do mundo, Ons Jabeur, por 2 sets a 0, com direito a um “pneu” (6/0 e 6/2), na segunda rodada do Australian Open, o mesmo torneio que, 19 anos antes, definiu seu destino.
Roland Garros: parte 2
De volta ao saibro da quadra Philippe-Chatrier, seu primeiro Grand Slam disputado na vida, Mirra não poderia imaginar o que estava por vir. A 38ª do mundo derrubou todas que cruzaram seu caminho nas quatro rodadas iniciais: as americanas Emina Bektas e Peyton Stearns, a russa-americana Varvara Gracheva, e a 21ª colocada, Victoria Azarenka.
Era a hora de reencontrar sua algoz, a segunda melhor tenista do ranking, Aryna Sabalenka, para disputar as quartas de final inéditas no torneio francês. Nas duas vezes em que duelaram, ambas durante o Madrid Open, sua compatriota levou a melhor. Nesta quarta-feira, a história foi diferente. Depois de ser superada na primeira parcial no tie-break, a adolescente de 17 anos virou o jogo e surpreendeu não apenas a torcida, mas o mundo inteiro, com o triunfo por 2 sets a 1.
Com muita maturidade de jogo, mas sem perder a ternura da idade, Andreeva disse em entrevista que teve um sinal no último game, quando resgatou uma joaninha em quadra.
– Acho que vocês me viram pegando algo no chão, no último game. Eu tinha visto uma joaninha e logo pensei: ‘Pode ser sorte para mim!’ Mesmo assim, tentei não pensar sobre isso, me manter agressiva e continuar meu jogo. Talvez essa joaninha tenha me ajudado um pouquinho hoje – contou.
Com o resultado, Mirra se tornou tenista mais jovem a alcançar as semifinais de Roland Garros, nos últimos 27 anos. A última a conseguir esse feito foi Martina Hingis, que chegou à penúltima etapa do Aberto francês e do US Open aos 16 anos, em 1997. Mesmo com talento de sobra, Andreeva tem uma missão difícil pela frente: derrotar a italiana Jasmine Paolini, 12ª do ranking, nesta quinta-feira, às 11h30 (de Brasília). Para quem viveu tudo isso em 17 anos, nem mesmo o troféu do torneio parece um sonho distante.